Diário de Bordo - Sérgio

 

25/04/2006

Hoje foi dia de trabalho. Acordei bem cedo e refiz o cronograma planejado da viagem (foram 3 horas tentando reorganizá-lo e retirando alguns lugares para podermos estar em setembro em Recife para a Refeno). Limpamos o mofo que aparecia em vários lugares por causa do barco ter ficado fechado tanto tempo. Fizemos diários, tomamos o café da manhã e fomos para Parati procurar uma série de coisas que precisava: bujões de 10 litros para diesel, puxa-saco para organizar os sacos plásticos, mata-moscas (a marina está infestada delas e ontem o Jonas quase teve um “chilique” por causa de uma no café da manhã), saquinhos vazados para legumes e frutas, luz química (aquela utilizada em pesca, que dobramos e ela acende) para colocar nos coletes salva-vidas para facilitar a visualização de alguém que possa cair do barco à noite, etc. Aproveitamos para almoçar na cidade, no bom “Sabor da Terra” e depois fomos até a sorveteria Miracolo, ao lado da Igreja Matriz, para tomar o delicioso sorvete deles. Em seguida, fui para a lan-house e fiquei quase duas horas atualizando o site e respondendo e-mail’s. Voltamos ao barco no fim da tarde e aproveitamos para jantar, estudar e tomar um bom banho. Lemos o penúltimo capítulo do “Cem Dias entre Céu e Mar”, intitulado “A Creche das Baleias”, que as crianças adoraram, e dormimos sonhando com as aventuras do Amyr Klink.

 

26/04/2006

Acordei cedo e logo o telefone tocou: era o Dadi nos avisando que tinha falado com o Flávio, que trabalha para o Amyr Klink, e que poderíamos visitar o Parati 2 se fôssemos rápidos. Chamei as crianças e elas deram um pulo da cama. Eles se arrumaram rapidamente e nem café quiseram tomar. Fomos para a marina do Engenho e lá chegando encontramos o próprio Amyr no píer. Conversamos rapidamente com ele para não atrapalhá-lo e pedimos um autografo no nosso exemplar do “Cem Dias entre Céu e Mar” que havíamos levado. Muito simpático, ainda deu tempo de conversarmos um pouco sobre nossa viagem. Depois fomos visitar o fantástico Parati 2. Barco sem frescuras, mas com tudo para o conforto de seus habitantes e extremamente forte e bem equipado, é um colírio para os olhos de quem gosta de veleiros. Os números impressionam: 300 quilos de âncora, dois mastros independentes de 30 metros de altura confeccionados em fibra de carbono, cem metros de corrente grossa, cabos de ancoragem e atracação super-grossos, oficina completíssima, mesa de navegação com vários equipamentos reservas, etc. E tudo muitíssimo bem organizado. O Flávio foi muito simpático conosco e, mesmo ocupadíssimo fez questão de nos acompanhar pelo “tour” ao barco, mostrando e explicando tudo sobre ele. Tiramos várias fotos (só esqueci de tirar uma com o Amyr- êta cabeça fraca!). Saímos do Parati 2 impressionados e o Jonas com um sorriso bobo na cara (ele adora veleiros!). Demos uma passada no Jade e demos um “oi” para o Dadi e a Denise, que estavam em plena arrumação do barco e aproveitamos para tirar algumas fotos deles, já que estávamos com a máquina. Retornamos ao barco, tomamos nosso café da manhã e resolvemos ir até uma praia que ainda não conhecia: Camburi. Ela é a primeira praia do estado de São Paulo quando se vai de Parati e fica logo depois da fronteira. Saímos da estrada e descemos a estradinha de 3,5 km até chegar na praia. Ela é maravilhosa! Linda, com poucas casas, alguns camping’s e dela vemos o lado “de trás” da ilha das Couves. O mar estava muito agitado, então entravamos na beirada do mar e depois íamos tomar banho nos dois rios que saem dos dois lados da praia (do lado esquerdo de quem olha o mar o rio é bem maior). As crianças fizeram suas corridas de barquinhos de folhas e eu fiquei curtindo o visual e a tranqüilidade do lugar. Estava tudo tão vazio que nem conseguimos um lugar para comer. Ficamos três horas na praia e saímos para comer em Parati. Antes disso demos uma parada na cachoeira da Escada, que fica na estrada bem na frente da entrada para Camburi. Ela é muito linda e alta, mas como havíamos acabado de sair de um rio, não quisemos tomar banho nela. Fomos para Parati e almoçamos no Sabor da Terra. Passei no mercado e comprei algumas coisas para beliscar, pois o Dadi e a Denise irão nos visitar para conhecer o Fandango. Eles chegaram no final do dia e logo mostramos nossa pequena “casa” (que parece uma barraca de camping se comparado ao lindo barco deles). Ficamos conversando, contando histórias e falando dos lugares que conheceremos daqui para a frente. Eles deixaram uma linda mensagem no nosso livro de visitas e ficamos de nos falar por Skype ou e-mail. Eu estava bem cansado com o dia cheio, mas ainda conseguimos ler o último capítulo do agora autografado livro “Cem Dias entre Céu e Mar”, meu favorito do Amyr Klink e um dos livros que mais gosto, do qual tomo a liberdade de extrair um parágrafo da última página: “Na quietude daquela noite, a última, ancorado no infinito sossego da Praia da Espera, sonhando com os olhos abertos e ouvindo outros barcos que também dormiam, descobri que a maior felicidade que existe é a silenciosa certeza de que vale a pena viver.”

 

27/04/2006

Após os diários e café da manhã, recebemos uma visita: Rafael Terentin. Chegou com seu lindo fusquinha branco 68, mas não foi dia de velejar. Corremos atrás de umas coisas que ele precisava de Parati, mas tivemos tempo para um bom bate-papo sobre a viagem, veleiros e morar no litoral. Fomos almoçar juntos em Parati e adivinha em que carro as crianças quiseram ir? No fusquinha 68! Aproveitamos para tomar um delicioso sorvete no Miracolo depois do almoço. Enquanto tomávamos sorvete, apareceu um sagüi na sacada do prédio da sorveteria. Os turistas começaram a filmá-lo e as crianças foram vê-lo quando foi para as árvores. Voltamos para o barco, conversamos mais um pouco e o Rafa se foi. Pegamos o computador e fomos para Parati. Puxei e-mail’s e voltamos para o barco. Respondemos alguns e-mail’s e começamos a ler o livro do Cabinho “Do Rio à Polinésia”, que nos foi presenteado há muito tempo pelos amigos Luís e Mariana.

 

28/04/2006

Hoje, após as obrigações, fomos levar um desenho que o Jonas queria dar para o Dadi, Denise e Kika, do trawler Jade. Aproveitamos e demos um “até breve”, pois eles estarão seguindo viagem amanhã de manhã. Depois fomos à lan-house em Parati para colocar os diários no ar e fomos ao mercado para abastecer o barco. Compramos muita coisa, pois quero ficar uns dias em Ilha Grande e depois seguir para o Rio direto. Também compramos coisas para a vinda da Lu e da Mônica este final de semana. Retornamos ao barco e guardamos tudo, compramos gelo e gasolina para o motor de popa e fizemos nosso almoço. A Lu ligou dizendo que não sabe se poderá vir, pois sua avó que fará 102 anos no dia 1o. de maio estava doente. As crianças estudaram bastante e fizemos um lanche antes de dormir. Quando estávamos dando uma passeada no píer chegaram os amigos do El Shaday e encontramos a Edna e o Peter, do Tararaína. Conversamos um pouco e fomos dormir para aproveitar bem o dia seguinte, não sem antes ler um pouco das peripécias do Cabinho com o “Batuque”.

 

29/04/2006 a 30/04/2006

Acordei hoje com uma noticio triste: a Dna. Maria, avó da Lu faleceu hoje de madrugada. Resolvemos pegar o carro e subir para São Paulo para dar um abraço e condolências à família. Subimos de carro dia 29 e voltamos de ônibus dia 30 à noite, aproveitando para deixar o carro com o Márcio, que vai cuidar dele para nós.

 

01/05/2006

Acordamos cedo, apesar de termos chegado no barco às 4 da manhã. A viagem de ônibus para Parati foi ótima. Logo encontramos o Sérgio do El Shaday e, após eu arrumar algumas coisas para zarparmos, fomos todos para a piscina brincar um pouco e conversar. Fiquei batendo um longo papo com o Sérgio e a Eliana, enquanto as crianças brincavam com a Déborah. Despedimo-nos dos funcionários que foram sempre tão simpáticos conosco (obrigado Sander, Rodrigo, Nonoco, Valéria, etc.) e dos amigos que fizemos na marina, que aproveitaram para assinar nosso livro de visitas (Sérgio, Eliana, Déborah, Peter, Edna, Alceu). Guardaremos com alegria o carinho de todos! Na saída paramos na fábrica que gelo, que estava fechada. Também não havia gelo no posto de gasolina. Paciência: ficaremos sem gelo por alguns dias. O plano era seguir direto para Ilha Grande, mas o barco estava tão sujo com o lodo que subiu na âncora (como estou subindo a âncora na catraca da genoa, o lodo se espalhou por quase todo o convés de boreste), que resolvemos parar em Jurumirim para limpá-lo e fazer o nosso almo-janta. Enquanto eu e o Jonas limpávamos o convés, a Carol fez um delicioso risoto com azeitonas, que estava maravilhoso. Aproveitamos o pôr-do-sol espetacular e então fomos fazer os diários atrasados. Vimos o filme do Amyr Klink “Mar Sem Fim” (é fantástico vê-lo na baia de Jurumirim!) e lemos mais um capítulo do livro do Cabinho. Como é bom estar retomando a viagem e novos caminhos!

 

02/05/2006

Acordamos cedo, com um dia muito bonito e fui direto para a água tomar o banho de mar matinal. Tomamos o café tranqüilamente e saímos às 10:30 hs com destino à Ilha Grande. Motoramos um pouco e instituímos turnos de 1 hora. O Jonas foi o primeiro e pegou um ventinho fraco de proa. No segundo turno, a sortuda da Carol pegou um vento de través maravilhoso que saia do saco do Mamanguá, que nos obrigou a rizar a mestra e enrolar um pouco a genoa. Foi uma velejada deliciosa, mas que durou apenas uns 20 minutos. O vento enfraqueceu um pouco, tiramos o riso e quando chegou a minha vez estava muito fraco. Algum tempo depois comecei a ver “carneirinhos” (ondas que quebram, fazendo o mar ficar branco) ao longe e pouco depois o vento começou a apertar. Começamos a velejar muito rápido, me obrigando a enrolar a genoa e deixar a mestra solta. Depois de uns vinte minutos de excelente velejada, com o mar engrossando e tendo que segurar o barco sempre que entrava uma onda na popa, achei melhor rizar a mestra novamente. Eu sempre faço rizo a mestra no segundo rizo, pois fica muito mais prático dimimuir ou aumentar a genoa do que a mestra. O vento aumentou mais um pouco e o mar também (fiquei sabendo que em Ilhabela a balsa parou!). Quem acabou se divertindo para valer, batendo recordes de velocidade (chegamos a 10,5 nós numa surfada!) foi o Jonas. Em quatro horas, mesmo pegando vento fraco em uma boa parte da viagem, chegamos a Sítio Forte e ancoramos na frente do bar do Lelé, onde batiam rajadas fortes de vento, mas que não eram nada em comparação com a entrada da frente fria que pegamos e que nos empurrou maravilhosamente para a enseada. Após a arrumação do barco, pois várias coisas caíram ou saíram dos seus lugares, fiz um risoto de carne seca, azeitona e milho, que ficou delicioso. Uma idéia que tivemos ao fazer o risoto foi levar pedaços de carne seca com farinha (a comida dos tropeiros da Trilha do Ouro) quando formos fazer uma travessia maior pois, se não pudermos cozinhar, todos irão curtir o menu frio. O resto do dia, que ficou frio e garoou um pouco, foi utilizado para ler e estudar. A noite recebemos uma visita inesperada: os gansos “estressados” que atacaram a Carol da outra vez vieram nadando até o barco pedir comida. Ficaram grasnando ao lado da popa do barco até que resolvemos dar alguns pedaços de pão para eles. Com isso, junto um grande número de peixes embaixo do barco também, que víamos com a lanterna. Se apagávamos as lanternas, víamos uma grande fosforescência da ardentia, causada pelo movimento dos pés dos gansos e pelo movimento dos peixes. Quando os gansos foram embora (tivemos que apagar tudo para eles pararem de pedir comida), li para as crianças mais um pouco do “Do Rio à Polinésia” e dormimos com o barco todo fechado pela primeira vez, pois estava um pouco frio.

 

03/05/2006

O dia amanheceu nublado e frio, mas sem chuva. Após um bom café da manhã (inclusive com a visita de nossos “amigos” gansos) fomos para a praia. Passeamos um pouco na bela praia de Ubatuba do Sítio Forte e o Jonas começou a desenhar barcos na areia e, logo após, começou a fazer seus barquinhos como sempre. Resolvemos tentar entrar na água, que estava mais quente que o ar. Duro foi na hora de sair. Aproveitei a água doce de um chuveiro que há na praia e tomei um banho (a água estava gelada). Encontramos alguns argentinos em um veleiro alugado e que se impressionaram com os barquinhos do Jonas. No começo da tarde resolvemos seguir para o Abraão. Fomos até o barco, levantamos âncora e saímos no motor, quase sem vento. Dez minutos depois o vento entrou de través por boreste e nos levava muito bem sem motor. Quando saímos da enseada de Sítio Forte, o vento girou para o bom leste, criando uma velejada em orça apertada, mas prometendo bom tempo para amanhã. O leste apertou um pouco e, mesmo com alguns bordos, demos uma magnífica velejada com todo o pano até a Ilha do Abraão. Lá chegando, o vento acabou novamente, mas já estávamos quase lá. Ligamos o motor, entramos na enseada e ancoramos do lado esquerdo de quem vê a praia. Como já faltava uma hora para escurecer e eu queria mostrar a cidade para as crianças de dia, pegamos rapidamente o bote e fomos para a praia. Deixamos o bote (recomendaram que levássemos os remos conosco) e fomos andando pela beira-mar. Mostrei para as crianças os cantinhos bonitos do Abraão, fomos até um píer novo, que permite paradas de até 15 minutos para embarque e desembarque (muito útil para quem que abastecer, principalmente porque há um mercadinho na entrada do píer) e resolvemos beliscar algo. Encontramos uma sorveteria chamada “Boca Gelata”, que fica na entrada do píer da balsa de passageiros, que tem salgados maravilhosos e um sorvete de framboesa como nunca comi. Fomos então procurar uma lan-house, para eu fazer algumas transações bancárias. As lan-houses são todas muito caras (R$ 12,00 por hora!) e a conexão péssima (levei 23 minutos para fazer algo que eu faria em no máximo 5 minutos). Passeamos mais um pouco, compramos presentes para o Enzo, filho do Luís e Mariana, que está para nascer e voltamos ao barco. As crianças foram estudar e eu comecei a ler um pouco, quando então me bateu um cansaço muito grande e “tive” que dormir. Acho que estou chocando uma gripe! Eles fizeram uma sopa para eles e o Jonas viu se estava tudo em ordem com o barco, enquanto eu “apaguei” profundamente.

 

04/05/2006

Dormi quase 13 horas, mas acordei bem disposto! O sol entrava na cabine e o céu estava totalmente azul (o leste de ontem prometeu bom tempo e cumpriu!). Aproveitei para me conectar na internet com o novo pacote de 1 giga que adquiri (assim posso acessar a net do barco sem descer com o computador). Após o café da manhã tivemos uma ótima notícia: nasceu o Enzo! Ligamos para o Luís para dar os parabéns para eles. Resolvemos dar um pulo até o Saco do Céu. Fomos velejando uma boa parte do tempo. Lá chegando fomos até o fundo da enseada, onde fica o restaurante Coqueiro Verde. O lugar é belíssimo, mas caríssimo também. Tomamos uma ducha numa cachoeirinha, bati algumas fotos e voltamos para o barco. Lá fiz um risoto com carne seca, cenoura, molho de tomate e alguns temperos. Eu adorei, mas as crianças não gostaram muito. Resolvemos tentar encontrar a pousada do Guido, que conhecemos em Jurumirim. Cheguei perto do lugar que eu achava ser a pousada, mas não havia ninguém para perguntar. Como já estava ficando tarde, resolvi seguir para nosso ancoradouro: Sítio Forte. Navegamos em um maravilhoso pôr-de-sol, do qual tirei algumas fotos muito legais e chegamos a noite na frente do bar do Lelé. Ancoramos e fomos às obrigações: diários e estudo. Após uma janta gostosa, fomos todos dormir.

 

05/05/2006

Acordamos cedo, fizemos as obrigações e demos uma arrumada no barco. A Lu e a Mô irão chegar hoje à tarde. Após um banho de mar e brincarmos um pouco, levantamos vela e seguimos para Angra. Demos uma excelente velejada com vento folgado até entrar na baia da cidade de Angra. Como não conheço muito o lugar, fiquei procurando algum canto em que pudesse embarcar as meninas. Encontrei um posto BR que fica no cais dos pescadores, encostamos, abastecemos e vi que ali seria o melhor lugar. Pedimos para deixar o barco um pouco, pois como era sexta-feira o posto estava vazio. Desembarcamos e fomos até o mercado comprar as coisas que estavam faltando. Perguntei sobre estacionamento e descobri um que mandava o manobrista buscar o carro no píer e levaria o carro de volta quando voltássemos. Logo elas chegaram, embarcamos rapidamente para não ter que navegar à noite na região de Angra que é perigosa, e saímos do posto. Logo estávamos velejando num ótimo vento que, em orça apertada, nos levou até Sítio Forte. Chegamos de noite, descemos âncora e logo fui preparar um jantar para todos: o velho e inesquecível macarrão com atum. Estávamos todos cansados e, após comermos, conversamos um pouco para matar as saudades e fomos todos dormir para aproveitar bem o dia seguinte.

 

06/05/2006

O dia amanheceu feio e chuvoso. Dormimos até tarde para descansarmos. Depois de um excelente café da manhã, quando recebemos a visita dos gansos, o Jonas, Carol e Mônica foram até a praia. Eu e a Lu resolvemos pescar e pegamos sete peixes pequenos. A isca? Queijo mussarela meio velho que não tive coragem de servir no café da manhã. Os peixes atacavam a isca avidamente e acho que encontrei uma isca fácil de levar no barco e que demora bastante para estragar. Fomos até a praia, onde limpei o peixe, passeamos e as meninas adoraram a praia e a tranqüilidade do lugar. Na volta para o barco todos estávamos todos com frio e muita fome. Logo esquentei o macarrão que sobrou de ontem (incrementando com mais um pouco de molho e de atum) e fritei os peixes. Como não tinha nada para empanar o peixe, improvisei com uma farinha de milho torrada (daquelas compradas prontas para servir com churrasco) e o empanado ficou razoável. Quanto ao peixe, fritei numa panela alta para não sujar o barco e ele ficou excelente. Não sobrou nada: nem macarrão e nem peixe! Após o jantar tivemos uma “sessão cinema” com o documentário sobre a última viagem do Amyr Klink: a circunavegação do continente Antártico à bordo do Paratii 2. Legal é que nós conhecemos três dos cinco integrantes da viagem: o Amyr, o simpático Flávio (que nos mostrou o Paratii) e o Junior (irmão da Berê). Ao final do documentário (belíssimo!) tomamos um chá e fomos todos dormir (a Lu já dormia fazia algum tempo). Apesar do dia frio e chuvoso, aproveitamos muito.

 

07/05/2006

Acordamos cedo e o dia amanheceu bonito, com poucas nuvens, mas um pouco frio. Hoje as meninas vão embora, mas ainda queremos aproveitar um pouco antes delas partirem. Levantamos logo âncora e seguimos para um lugar que eu escutei falar muito, mas não conhecia: as ilhas Botinas. Enquanto a Lu levava o leme e o Jonas fazia a navegação, eu preparava o café da manhã. Logo chegamos às ilhas e não havia muitos barcos: demos sorte! Nos preparamos e fomos todos para a água. O lugar é belíssimo para mergulhar. Água muito clara, fundo de areia e pedras e muita vida marinha. De mais interessante vimos um grande baiacu de espinhos (que eu comecei a puxar o rabo dele – ele não foge! – e depois a Carol também começou – conseguimos trazê-lo até perto da superfície nessa brindadeira!), uma pequena tartaruga, que deu um show passeando entre nós e quatro “parentes” da lula, que não sei o nome, mas são muito bonitos e grandes (havia uma que devia pesar perto de um quilo!). Na volta para o barco, após o mergulho maravilhoso, ainda fui presenteado por Iemanjá, encontrando mais uma máscara de mergulho um snorkel. Fomos para Angra e deixamos as meninas, com muitos beijos de despedida e sabendo que, daqui para frente, os encontros serão menos freqüentes e mais difíceis (o coração fica apertado nessas horas!). Saímos de Angra e decidimos ir pernoitar, finalmente, no Saco do Céu. Saindo da enseada da cidade de Angra o vento logo apareceu e fomos velejando numa orça apertada até nosso destino. O vento apertou quando chegávamos perto da enseada das Estrelas e tivemos que rizar a genoa com o enrolador. Entramos no Saco do Céu e o vento parou na hora. Nada como um lugar muito abrigado para dormir sossegado! Fui fazer nosso jantar (lingüiças fritas com risoto de lingüiça). Milagrosamente o Jonas quis experimentar requeijão no risoto e adorou. Depois de tantos anos tentando fazê-lo comer requeijão, finalmente conseguimos (nada como um bom tempero para isso: a fome!). Fizemos nossos diários atrasados, lemos um pouco e fomos dormir, sonhando com as estrelas do Saco do Céu!

 

08/05/2006

Não havíamos conseguido ver as estrelas no céu no dia anterior, pois estava nublado. Mas, assim que acordamos, fomos ver como estava a água e enxergávamos todo o céu refletido no mar! Após tomar café e arrumar o barco para sair, fomos até o restaurante Reis e Magos para transmitir um abraço de nosso amigo Luiz Puig para o Miguel e João, donos do restaurante. Não os encontramos, mas seu tio Ivan nos recebeu e nos mostrou, além do maravilhoso restaurante, um mirante de onde se enxerga todo o Saco do Céu. É lindíssima a vista! A Carol ainda viu oito filhotes de labrador que ele tinha e se apaixonou por eles. Saímos do Saco do Céu com destino à enseada de Palmas, para seguir viagem para o Rio mais tarde. No caminho fui relembrar para as crianças como mexer com o piloto automático e ele não quis funcionar de jeito nenhum. Acabamos parando em Abraão para tentar consertá-lo. Desmontei o “Jarbas”, mexi, raspei, chacoalhei e nada. Após muita briga desisti e resolvemos encarar as horas no leme nós mesmo. Descansei um pouquinho, fizemos o almoço, mas a ansiedade de chegar no Rio estava grande e saímos às 17:30 hs, para poder ver bem a saída ainda durante o dia. Logo escureceu e começamos os turnos. O Jonas e a Carol quiseram fazer o primeiro, mas como começou a chover forte, eu assumi e mandei-o Jonas descansar e a Carol ficou embaixo do “dog house” conversando comigo. A chuva persistiu por duas horas e o mar e vento entravam bem na cara. Mesmo assim andávamos bem, com o motor a 1.800 giros. Quando já me consolava em ter uma noite horrível e xingava internamente a meteorologia, o tempo começou a melhorar: parou de chover, começou a clarear e o vento torceu o suficiente para eu dar uma velejada de uma hora. Após isso, o vento ficou muito fraco. Liguei o motor e mantive as velas, que ajudavam muito o andamento do barco. Aos poucos fomos deixando a ilha da Marambaia e a Ilha Grande para trás.

 

09/05/2006

Aos poucos fomos encontrando navios, barcos de pesca e vimos o lindo litoral iluminado do início do Rio de Janeiro. Entendi perfeitamente o problema que alguns navegantes passam com a Restinga da Marambaia. Vê-se o litoral de Mangaratiba por trás da restinga e temos a tentação de chegar mais perto de terra, só que no meio do caminho, há a restinga para se encalhar. Velejadores solitários e antigos navegantes devem ter tido muitos problemas aí no passado. Tirei umas rápidas sonecas no cockpit ao lado das crianças para descansar um pouco. Fui fazendo a navegação e uma certa hora o GPS não estava conseguindo pegar os sinais dos satélites. Fui tentar ligar o GPS reserva e este se recusou a funcionar! Ainda bem que o GPS principal funcionou. Foi a viagem do “motim dos eletrônicos”! E ainda fez valer o ditado: “No mar, quem tem um não tem nenhum, quem tem dois tem um.” Quando fomos nos aproximando do Rio, o sono foi passando em virtude do grande movimento de pesqueiros na região (vimos uns quarenta ou mais!) e também pela beleza do litoral do Rio de Janeiro, todo rendilhado de luzes dos prédios e das praias. Fui fazendo a navegação com todo cuidado e isso foi ótimo, pois uma montanha muito parecida com o Pão de Açúcar me enganou num determinado momento, dando a falsa idéia que devíamos aterrar antes da hora. Segui minha navegação feita antecipadamente e notei o engano quando passamos pelo local. Quando faltavam umas quatro horas para chegarmos, diminui o motor pois estávamos bem adiantados e não valia a pena chegar cedo demais: ficaria mais difícil para entrar à noite sem conhecer o lugar e ainda perderíamos o nascer do sol no mar. Isso foi ótimo: fomos premiados com um lindo “pôr-de-lua”, de um alaranjado muito lindo e ainda vimos o dia nascer e iluminar o Pão-de-Açucar, quando entrávamos no Rio. Me recordei da música “O Rio de Janeiro continua lindo...”. Lindo não, MARAVILHOSO! – ao menos visto do mar. Fomos entrando na baia da Guanabara e nos dirigimos ao Iate Clube do Rio de Janeiro, onde entramos às 8 horas da manhã e fomos muito bem recebidos como convidados, através do Marcelo Dias, amigo de Luiz Puig que, mesmo sem nos conhecer pessoalmente, foi muito gentil conosco. Desde já, meu agradecimento à ele e, novamente Puig, muito obrigado a você. Enquanto estávamos no píer, encontramos o Luis Francisqueti, popular Ligado, de Ilhabela! Acenamos e marcamos de nos ver mais tarde no Rio Boat Show. Logo levamos o barco para a poita, tomamos o café, descansei um pouco e fizemos os diários rapidamente para poder passear um pouco pelo Rio. Descemos do barco e a primeira coisa que fizemos foi tomar um banho quente! Esse é um dos prazeres da vida que toma outra dimensão depois de tomarmos banho com água do mar fria depois de algum tempo. Em seguida fomos até Botafogo a pé para procurar uma lavanderia. Deixamos a roupa para lavar (deu dois cestos!) e almoçamos num restaurante próximo, onde o Jonas e a Carol encontraram um “bartatas” (rosty de batata), que eles adoram e já tinham perguntado se não dava para fazer no barco. Depois passamos no clube, pegamos a máquina fotográfica e fomos ao bondinho do Pão de Açúcar para pegar informações (o clube fica muito perto de tudo). Vimos que não dava para fazer o passeio naquele dia por não termos muito tempo e seguimos passeando pela Urca, retornando então ao clube para pegar o barco que nos levaria para o Rio-Boat Show. Chegando no Rio-Boat logo vimos o píer dos cruzeiristas, com os barcos conhecidos: Rapunzel, Guardian, Kanaloa, Plâncton, etc. Seguimos logo para lá, parando antes para entrar num lindo Beneteau de 43 pés no caminho. Quando chegamos, logo encontramos o comandante Torres do Kanaloa. Batemos um papo com ele, conhecemos o barco e sua simpática esposa, trocamos telefones e fomos convidados por ele para as palestras do dia seguinte, ganhando inclusive convites. Saímos do barco e logo conhecemos pessoalmente o simpático e brincalhão João Sombra. Ele começou a fazer mágicas para as crianças, que adoraram e ainda estão perguntando como ele fez certas coisas. Quem ainda não conhece os livros do Guardian, procurem ler e vejam como é especial esta pessoa de enorme coração! (recomendo também uma visita ao site, que se encontra nos link’s deste site). Tivemos então que correr ao stand da Regatta, para tentarmos resolver nossos dois problemas eletrônicos: GPS e piloto automático. O GPS está numa super-promoção e logo reservei um. Quanto ao piloto, os preços estão muito caros, mas falaram que dividiriam em 10 vezes sem acréscimo. Ficamos de voltar amanhã para ver se chegou a mercadoria que estava em falta. Na volta ainda encontrei com o amigo Bira da Marine Express, com uma moça que corria no Armação (e mandamos por ela um abraço para a Valéria) e fomos conhecer o Jefferson da Nautos. Muito simpático, ele se ofereceu para conseguir um lugar na marina da Ilha do Paquetá para quando formos lá. Queríamos andar mais pela feira mas o barco para voltar ao clube tinha horário certo. Dessa forma, voltamos ao barco, fiz o jantar e fomos todos dormir (comigo acabado pelas quase 40 horas acordado direto, quando só descansei dois trechos de meia-hora).